Paul McCartney: vivi um sonho.

Pertenço a uma geração que viveu a época mágica das transformações no mundo. Uma parte desta época eu era apenas um pré-adolescente, mas já ouvia e curtia Beatles. Outra parte eu vivi as mudanças sob a censura da ditadura militar, mas não me poupei. 

Beatles, Beatles, Beatles, eu não tinha ouvidos para outras bandas, era o 'Iê-Iê-Iê', os cabeludos, aquela melodiosa pauleira de 'Help!', 'Cant by me love', 'Twist and shout', e por aí e muito mais.
No início dos anos 70, a péssima notícia: "o sonho acabou", os quatro rapazes de Liverpool desfazem a banda. Quem foi o vilão? Foi por anos seguidos a principal pergunta no meio musical. Aí fui conhecer outros sons como Deep Purple, The Who, Rolling Stones, até que em 1973 o Pink Floyd me fez avançar no tempo com músicas produzidas totalmente fora na nossa razão, na época.

Nos anos 80, não sei precisar o ano, tive um sonho incrível daqueles que a gente se sente vivendo de verdade e não quer acordar. O dia, depois que acordei, foi também muito estranho, pois eu me sentia 'zen', eu me sentia um 'Beatle'. 

Sonhei que Paul McCartney estava apresentando seu show no estádio do Pacaembú e quando fez o primeiro acorde da música "My Love", eu me vi sobre o palco tocando junto com ele. A imagem ficou gravada: olhando para o estádio, as luzes dos refletores ofuscavam minha visão impedindo que eu visse o público cantando junto, mas estavam lá. Olhei para o gramado, e ouvia as pessoas cantando, mas só ouvia, pois eu conseguia ver o gramado verde.

Ao comentar o meu sonho, tive admiradores assim como tive 'depredadores' da minha esperança em ver um Beatle, de preferência Paul, aqui no Brasil. Em 1990, eu não pude ir ao Maracanã ver Paul McCartney, o único Beatle que se apresentava no Brasil. As mesmas pessoas, principalmente os 'depredadores', lembraram do meu sonho e imediatamente repercutiu a velha frase: "o sonho, não acabou".

Em 1993, Paul McCartney e sua nova banda voltariam ao Brasil para mais dois megashows: Maracanã e Pacaembú. Emocionado, trêmulo, ansioso, li a notícia e não acreditava que isso ia acontecer. Três dias antes do show no Pacaembú, eu não tinha ainda meu ingresso. Meu escritório na Rua Ceará, em Higienópolis, ficava há poucas quadras do estádio, eu estava sentado nos degraus da escada da entrada principal tentando buscar uma maneira de assistir ao show, quando fui chamado ao telefone, era o Galdino do marketing da Folha de São Paulo que precisava de uma reunião urgente naquela tarde. No caminho, o sonho vinha na minha mente como um filme, ao mesmo tempo, eu estava no desespero ao ponto de invadir o estádio de alguma forma. Na reunião, me foi ofertado um trabalho para coordenar a sala de imprensa do jornal Folha de S. Paulo, um dos apoiadores do show de Paul McCartney. Uau!!! Galdino sabendo que eu era (sou) beatlemaníaco, sorriu e não aceitou que eu fizesse 'gratuitamente' esse trabalho. Isso mesmo, eu nem queria cobrar.

Dia 3 de dezembro de 1993, 08h00, eu estava no estádio para acompanhar desde as primeiras horas a montagem da sala de imprensa e, claro, viver o clima de um show com um Beatle. Zelão era o administrador do estádio na ocasião e aquele senhor afro de quase 2 metros de altura, simpatizou com este branquelo e me levou para tudo que era canto. Às 15h00 estava marcado a passagem do som no ginásio ao lado do estádio, o anexo do complexo esportivo. Primeiro contato há 50 metros de Paul, foi quando ele entrou no estádio dentro de uma limousine branca e acenou para todos. Ganhei o dia, pensei. Não, tinha mais emoções pela frente. Zelão sabendo do meu sonho, levou-me para dentro do ginásio para assistir ao ensaio. "My God!"... eu estava há menos de 10 metros de Paul e Linda. Meu coração quase pulava pela boca, acho que naquele dia foi a primeira vez na minha vida que senti todas as veias e artérias pulsarem no mesmo compasso das músicas ali tocadas ao vivo para mim. "Band on the run"... vibrei, pulei... aí veio o intervalo para descanso e atendimento à imprensa. Zelão quase me carregou nos ombros, pois quando me chamaram para cumprimentar a banda, minhas pernas não se mexiam.

Fiquei um bom tempo sem lavar a mão direita, o aperto de mão que Paul me deu fez passar em trinta segundos toda a minha vida de um apaixonado pelos Beatles. Ao seu lado, a saudosa Linda Eastman, que também promoveu em mim a abstenção de lavar as minhas bochechas por um bom tempo.

Este sagrado privilégio fez com que naquela noite eu assistisse ao show de qualquer lugar do estádio, eu estava totalmente satisfeito e feliz. Postei-me junto ao público do gramado, aliás, a noite foi marcada pelas variadas faixas etárias que foram assistir Paul McCartney. No meio do show, lembrei-me do sonho, e avisei logo aos que estavam ao meu lado: quando tocar My Love, segurem-me. E não foi diferente. No primeiro acorde eu desabei em choro incontido.

Minha vida não foi mais a mesma, não só pelo fato ocorrido na tarde, mas porque eu aprendi uma coisa importante que não abro mão: todo sonho é possível. Só não toquei com Paul.

Das várias composições da dupla Lennon e McCartney, Let It Be traz essa mensagem que eu acredito ser uma leitura muito legal para todos.


Let It Be foi composta por Paul McCartney e dedicada à sua mãe Mary Patrícia Mohin McCartney. Quando ele diz: “Mother Mary comes to me”, dá a impressão que refere-se à Nossa Senhora, Mãe de Jesus. Ele sonhou com a mãe vindo em sua direção e dizendo: Let it be, “deixa estar” ou “vai ficar tudo bem”.
Quando acordou, Paul já estava com a melodia na cabeça. A música existe em duas versões do solo de Harrison, sem contar com a versão do álbum “Let It Be...Naked”, onde Lennon toca baixo.
Mary McCartney foi vítima de câncer mamário e faleceu em 31 de outubro de 1956, quando Paul tinha apenas 14 anos. A morte da mãe o abalou profundamente.

LET IT BE
Lennon e McCartney
Com tradução

When i find myself in times of trouble
Quando eu me encontro em tempos difíceis
Mother mary comes to me
Mãe Maria vem a mim
Speaking words of wisdom, let it be.
Falando palavras de sabedoria, deixa estar.
And in my hour of darkness
E na minha hora de escuridão
She is standing right in front of me
Ela está parada bem na minha frente
Speaking words of wisdom, let it be.
Falando palavras de sabedoria, deixa estar.
Let it be, let it be.
Deixa estar, deixa estar.
Whisper words of wisdom, let it be.
Murmura palavras de sabedoria, deixa estar.
And when the broken hearted people
E quando as pessoas de coração partido
Living in the world agree,
Vivendo no mundo concordarem,
There will be an answer, let it be.
Haverá uma resposta, deixa estar.
For though they may be parted there is
Pois embora possam estar separados há
Still a chance that they will see
Ainda uma chance que eles vão ver
There will be an answer, let it be.
Haverá uma resposta, deixa estar.
Let it be, let it be.
Deixa estar, deixa estar.
There will be an answer, let it be.
Haverá uma resposta, deixa estar.
Let it be, let it be.
Deixa estar, deixa estar.
Whisper words of wisdom, let it be.
Murmura palavras de sabedoria, deixa estar.
Let it be, let it be.
Deixa estar, deixa estar.
There will be an answer, let it be.
Haverá uma resposta, deixa estar.
Let it be, let it be.
            Deixa estar, deixa estar.
There will be an answer, let it be.
Haverá uma resposta, deixa estar.
And when the night is cloudy,
E quando a noite está nublada,
There is still a light that shines on me,
Existe ainda uma luz que brilha em mim,
Shine on until tomorrow, let it be.
Brilhe até amanhã, deixe estar.
I wake up to the sound of music
Eu acordei ao som da música
Mother mary comes to me
Mãe Maria vem a mim
There will be no sorrow, let it be.
Não haverá tristeza, deixa estar.
Let it be, let it be.
Deixa estar, deixa estar.
There will be no sorrow, let it be.
Não haverá tristeza, deixa estar.
Let it be, let it be,
Deixe estar, deixe estar,
Whisper words of wisdom, let it be.
Murmura palavras de sabedoria, deixa estar.

Comentários

Postar um comentário

Obrigado pela visita.

Postagens mais visitadas deste blog

Perfil Profissional